sexta-feira, 11 de março de 2016

The Future


A capa




Ouvi os Seeds pela primeira vez num programa da extinta rádio Felusp de Canoas, a atual repetidora porto-alegrense da Mix, quando o 107.1 era, de fato, uma college radio inesquecível e excelente, mas que durou pouco tempo, até ser radicalmente modificada em seu prospecto. A Felusp era algo que o pessoal da teoria da comunicação chamaria de "paidéia radiofônica".

Os Seeds eram aquele típico grupo que apareceu no mercado norte-americano depois da catarse promovida pela Invasão Britânica. Em geral, aquelas bandas — hoje rotuladas como "nuggets", por causa da famosa coletânea da Elektra, de 1972, e depois relançada com sucesso em CD.

A maioria dessas bandas que apareceram na esteira da British Invasion naturalmente emulava o 'merseysound', porém preferiam soar quase como bandas de garagem. Muitas são realmente parecidas entre si — desde a sonoridade até o caráter efêmero. Algumas, que foram lançadas como pau-de-sebo pelas gravadoras ianques, interessadas em achar os "Beatles americanos", não iriam além de alguns singles. Outras, contrariando expectativas, conseguiriam um lugar ao sol nas paradas.

Foi o caso de conjuntos como o Kingsmen, que chegou ao nº 2 da Billboard, os Knickerbockers, com "Lies", e os Seeds. Em 1965, eles lançaram "Pushin' Too Hard" que, como boa parte daquela produção "pau-de-sebo", passava batida ou resumiam-se a sucessos locais, estourou meses depois, por causa de um DJ de Los Angeles que, como sempre acontece, descobre um Lado B e transforma em sucesso.

Em 1966, "Pushin' Too Hard" chegou ao 26º na Billboard Pop, e catapultou os Seeds ao mainstream. O single franqueou a banda a gravar seu álbum de estreia.

O interessante nos Seeds é que, a despeito da sua origem comum a todas as bandas norte-americans do seu tempo, quando eles tiveram a chance de lançar long-plays, eles decidiram fazer música "de vanguarda". O primeiro resultado é o A Web of Sound. O disco não vendeu muito na época. Porém, está no mesmo contexto do pré-psicodelismo do período.

O corolário dessa mudança é o sofisticado e conciso Future. O terceiro disco dos Seeds mostra uma evolução considerável, de uma banda garageira para uma produção de álbum que chega ao nível do melhor que se fez naquele fatídico ano de 67 para o rock. Mesmo assim, o disco pela a transição de 66 para o ano seguinte, ou seja, é pré-psicodélico mas bate na trave do conceitualismo que iria tornar-se o mote do pop nos anos seguintes.

Nesse sentido, é importante observar que muito dessa evolução musical corrobora a tese de que o rock dos anos 60 evoluiu justamente quando passou da mentalidade do single para o do álbum. Isso permitiu que fosse possível pensar de forma planejada a concepção de álbuns como um "grande single" (essa é a teoria de Keith Richards na sua autobiografia, por exemplo) e que foi esse fator que garantiria a sobrevivência da maioria dos conjuntos daquele tempo. Ou seja, a evolução do single para o álbum foi um processo tão natural quanto necessário, quando o modelo do compacto simples já não respondia à pretensão, à ambição e as aspirações da maioria das bandas dos anos 60.

Curioso é observar que Sky Saxon, o líder dos Seeds, concebendo Future por conta própria — fazendo uso de overdubbing, e orquestras em arranjos camerísticos, chegaria ao mesmo nível da concorrência, contudo sem perder o acento típico da sua originalidade.

The Future saiu em agosto de 1967 e chegou à 88º posição nas paradas norte-americanas. O compacto do disco, ""A Thousand Shadows", se saiu melhor do que o anterior, "Mr. Farmer" (que foi banido por muitas rádios por achar-se que a letra tivesse referência à drogas), e ficou também pela 72º posição nos singles da Billboard. O curioso é que, mesmo que a produção dos Seeds fosse original, parte da crítica achou que Future fosse inspirado pelo Sgt. Pepper's, dos Beatles — muito embora a maior parte do disco, como "Travel With Your Mind", foram gravadas ainda em meados de 66. Semelhança insólita, como a que aconteceria com os Flamin' Lips e os Rolling Stones, alguns anos depois. Mas isso é assunto para um próximo post.

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